Durante a campanha eleitoral, pudemos assistir a diversos pregadores cristãos que se utilizam dos meios de comunicação eletrônicos, rádio e televisão, tomarem uma posição política em relação a este ou aquele candidato que disputava um dos cargos superiores da sociedade; governador de um estado ou a presidência da República. Quando isso não ocorria abertamente durante o horário político obrigatório, acontecia veladamente nos programas desses pregadores.
Os argumentos apresentados por eles eram de que um cristão é um “cidadão” sujeito às leis da nação, com deveres e direitos, e que por isso deve participar ativamente, como qualquer cidadão, dos destinos do país, e o “tenebroso” PNDH-3, apresentado como um perigo assustador, uma ameaça irreparável à fé cristã. Este último argumento deve ser tratado à parte.
Então, como vimos antes, todos os cristãos tiveram a oportunidade de ver, ou ouvir, os pregadores cristãos nos horários políticos obrigatórios, pedindo o “nosso voto” para esse ou aquele candidato aos altos cargos, juntamente com os pedidos dos tipos: “Para o cargo tal (deputado estadual, federal ou senador) peço seu voto para meu irmão”; ou “para a minha esposa”; ou “para o meu marido”; ou “para o meu filho”; ou “para este membro da minha comunidade”, porque “nele(a) você pode confiar” e “cristão vota em cristão” (Claro que afirmo isso para aqueles que viram ou ouviram as propagandas, sem desligar os receptores...).
Deste modo, é de se esperar que os cristãos tenham aproveitado esta “oportunidade” para escolher seu candidato e aprender esta máxima: cristão vota em cristão...
Isto é verdade? Cristão vota, ou melhor, tem de votar em cristão?
Vejamos. No dia da votação, o cristão saiu de casa para cumprir seu dever de cidadão, depois de dormir sobre uma cama cristã, com roupas de cama e lençóis cristãos; depois de ter tomado seu café da manhã com alimentos cristãos; depois de ter tomado um banho cristão, com água e sabonete cristãos, utilizando uma toalha cristã para se secar; e, enxuto, depois de ter vestido roupa e calçados cristãos, sendo que todo esse material cristão foi adquirido em lojas e mercados cristãos, produzido por empresas cristãs e os alimentos foram plantados em terras cristãs. E as lojas, empresas e terras são de propriedade de cristãos, com trabalhadores cristãos.
E o cristão chegou a sua seção cristã de votação, onde os mesários, todos cristãos, lhe indicaram a cabine cristã onde se localizava a urna eletrônica cristã. Ele entrou na cabine, feliz, para poder votar nos seus candidatos cristãos, exercendo, deste modo, seu direito de cidadão. Mas, o cristão teve uma surpresa. A urna eletrônica estava contaminada. Nomes de candidatos “não cristãos” apareceram na tela:
– Oh! Que decepção...
Porém, o cristão é valente. Ele vota, confirma seu voto e sai da seção eleitoral, não cristã, conforme se pode “observar”. Mas, o enorme susto não abalou sua fé. Ele retomará suas atividades; todas cristãs, pelo menos, assim se espera...
Amigos: para se ver – ou ler – bobagens maiores do que essas que foram escritas acima, somente tiveram oportunidade aqueles que assistiram todos os dias e horas aos horários políticos eleitorais...
[Continua no próximo capítulo]