Não me lembro de ter ido, alguma vez na minha infância ou adolescência, a um culto ou escola dominical. Meu pai era católico de estatísticas, ou seja, não passava nem perto de uma missa; e minha mãe, apesar de sua formação evangélica, estava afastada da igreja. Papai, perseguido nos anos negros da ditadura militar, foi um intelectual socialista – não comunista, inconformado com a injustiça social que reina absoluta neste país.
Herdeiro desta indignação, aos vinte e poucos anos tornei-me marxista, daqueles capazes de estudar, até a exaustão, Karl Marx e toda a sua turma. Um marxista ortodoxo, e, consequentemente, ateu. E mais: um combatente feroz da existência de Deus.
Porém, conforme o Livro dos livros, em Isaías 55.9, se lê que o Senhor Deus tem os “Seus caminhos”, que não são os nossos caminhos.
Gosto de ler, assuntos diversos. Desde a juventude, tudo o que caía em minhas mãos, eu traçava. E, confesso, sou do mesmo jeitinho até os dias de hoje...
Deus tem os “Seus caminhos”. E, um dia qualquer do ano de 1987, adoeci. Foi uma “enfermidade” tal, que fiquei completamente impossibilitado de sair de casa. Então, nada mais tendo para fazer, não me restou outra alternativa senão fazer o que já era um hábito, quase um vício: ler.
Então, para passar o tempo, resolvi, sabe-se lá o porquê, fazer um estudo comparativo entre a mitologia greco-romana e a “mitologia hebraica”. Peguei um livro, repleto de páginas, que adquirira há tempos e que nunca tivera uma oportunidade real para abrir, e uma Bíblia, muito mais repleta de páginas, que jazia esquecida numa prateleira.
Uma Bíblia na casa de um ateu!? O Senhor Deus tem os “Seus caminhos”...
Mergulhado até a alma no tal estudo, fui confrontando as “mitologias”, comparando aqui e ali, quando aconteceu um fato, um tremendo fato. Alguém disse, um dia, que a Bíblia é o único livro que vem com o autor! E este Autor, por sua infinita misericórdia, falou diretamente comigo.
Assim, em meio à leitura, me reconheci como um pecador, entregando minha vida ao Senhor Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo, Deus de toda justiça, Deus da Graça e de toda misericórdia.
Com o auxílio do Espírito Santo – o grande ensinador! – , descobri que a Bíblia é a Palavra de Deus e, com enorme prazer, prazer que jamais tive com todos os inúmeros livros que lera, li a Bíblia em quarenta dias, sendo uma vez o Antigo Testamento e duas vezes o Novo Testamento.
“Ah! todos vós que tendes sede, vinde às águas” (Isaías 55.1).
Quanto ao compêndio de mitologia greco-romana, está lá, querido leitor, na estante, cada vez mais empoeirado, com um marcador jazendo na página 103.
(Leia: Isaías 55.1-13)
[Texto revisado. Publicado originalmente no devocionário Semente de Esperança. Edição da Pastoral Popular Luterana/Editora Sinodal. Santa Catarina, 1997.]